Jovem trans assassinada era ativa na Cultura Popular de Juazeiro; centenas acompanham velório nesta tarde | Araripe News

Jovem trans assassinada era ativa na Cultura Popular de Juazeiro; centenas acompanham velório nesta tarde


A jovem transexual Crislaine Guedes (Daniel), 21, assassinada neste fim de semana em Juazeiro do Norte (Foto: Alana Soares/Agência Miséria)


A jovem transexual Crislaine Guedes (Daniel), 21, assassinada neste fim de semana em Juazeiro do Norte era ativa em grupos de cultura popular e defendia liberdade religiosa com fervor. Mulher transexual, pobre, periférica e sem ensino fundamental completo, a lembrança predominante de Crislaine entre os seus é a alegria. Centenas velam o corpo da jovem desde a noite de ontem, 1, e acompanham cortejo fúnebre junto ao grupo de Reisado da Mestre Lúcia nesta tarde de terça-feira, 2.

Contra-mestre do Reisado, Crislaine brincava há 5 anos no grupo de Reisado, que lembra dela pelo nome de batismo, Daniel. "Uma pessoa muito doce, alegre e divertida. Não fazia mal a uma mosca", diz mestre Lúcia, primeira dos reisados de guerreiro a incluir pessoas LGBTs.

Pela regra moral, o grupo deve homenagear seu ente falecido com cortejo fúnebre. Nesta tarde, pelo menos 15 brincantes trocaram o preto pelo branco e vermelho para cantar e dançar em homenagem a Crislaine.


Amigos e familiares lamentam morte de jovem (Foto: Alana Soares/Agência Miséria)

ASSASSINATO

O crime pegou a família de surpresa. O corpo de Crislaine foi encontrado ontem, 1, em terreno baldio do bairro João Cabral, com morte cerebral. O motivo da morte seria diversas pancadas na cabeça, que levou a um traumatismo craniano. A jovem estava desaparecida desde o sábado, 30.

A família conta que Crislaine não possuía inimigos públicos e estava tentando se afastar do vício em maconha. Em 2017, ela foi presa por 4 meses por posse e tráfico de drogas. Desde então, cumpria medida socioeducativa no CRAS local. 

Para os movimentos sociais em defensa da população LGBT, o crime pode ter sido motivado por ódio a sua condição de gênero e sexualidade tendo em vista a brutalidade do ato.


Grupo Reisado Guerreiro de Mestra Lúcia presta homenagem ao membro falecido (Foto: Alana Soares/Agência Miséria)

"Mesmo que a polícia não tenha investigado, o movimento coloca como LGBTfobia por conta das características violentas do crime", afirma a Ana Paula, do Conselho dos Direitos LGBT de Juazeiro do Norte.

"Tipificar como violência transfóbica ajuda a lançar uma demanda para sua criminalização". Movimentos sociais vão denunciar o caso na Delegacia da Mulher.

Apenas ano passado, 13 pessoas trans foram assassinadas violentamente no Ceará. O índice se iguala ao da Bahia e Rio de Janeiro. O Brasil lidera ranking de países com 868 registros de homicídios de pessoas transgêneras, segundo a ONG Transgender Europe.




Por Alana Soares/Agência Miséria
Miséria.com.br

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