Número de mortos em Guta Oriental, na Síria, passa de mil, diz ONG | Araripe News

Número de mortos em Guta Oriental, na Síria, passa de mil, diz ONG


Crianças reúnem madeira em Guta na sexta-feira (9) (Foto: Bassam Khabieh/Reuters)


Mais de mil civis morreram desde o início, há três semanas, da ofensiva do regime sírio contra o enclave rebelde de Guta Oriental, de acordo com o Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH). Das 1.002 vítimas contabilizadas até o momento, 215 são crianças, segundo a ONG.

A região fica nos arredores de Damasco e é um antigo destino de viagens de final de semana para os moradores da capital síria. Atualmente, tornou-se um dos últimos redutos de rebeldes que lutam contra o regime do ditador Bashar Al-Assad.

Nesta região, de cerca de 100 quilômetros quadrados, 400 mil pessoas vivem cercados por forças pró-Damasco. O cerco a Guta Oriental teve início em 2013, dois anos depois de explodir a guerra na Síria.

Apesar de ser isolada e bombardeada há anos, as forças de Assad negligenciaram Guta Oriental durante os primeiros anos da guerra civil porque se concentraram em recuperar áreas consideradas cruciais para a sobrevivência do governo. No entanto, desde o dia 18 de fevereiro a região é alvo de uma nova campanha aérea lançada pelo regime de Assad e seu aliado, a Rússia.

Apesar da Organização das Nações Unidas (ONU) ter aprovado um cessar-fogo para a região, ela não foi colocado em prática. Nem mesmo durante as cinco horas diárias, que os russos se comprometeram a respeitar, a trégua humanitária funcionou. A Rússia culpa os rebeldes.

Ajuda humanitária

Nesta sexta-feira (9), Guta foi alvo de um ataque aéreo após chegada de comboio humanitário, segundo relato do OSDH.

Pouco antes do registro do ataque, o porta-voz do Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) em Damasco, Ingy Sedky, havia informado que 13 caminhões que transportavam comida e remédio tinham entrado no enclave rebelde nos arredores de Damasco.

As equipes conseguiram entregar a ajuda, que deveria ter chegado no dia 5 de março, mas tinha sido adiada por causa de bombardeios na região.

O CICV afirmou em comunicado que sua equipe, em parceria com o Crescente Vermelho na Síria e a Organização das Nações Unidas (ONU), distribuiu 2.400 pacotes de comida suficientes para 12 mil pessoas durante um mês e 3.248 sacos de farinha na cidade de Duma.

"Os combates que aconteceram nos surpreenderam, porque as partes envolvidas neste conflito garantiram que as ajudas humanitárias podiam entrar em Duma. É imprescindível que essas garantias sejam renovadas e respeitadas no futuro para que mais ajuda entre nos próximos dias", declarou o diretor regional do CICV para o Oriente Médio, Robert Mardini.

Ele aproveitou para ressaltar que "a segurança dos trabalhadores humanitários, assim como a dos civis, deveria ser garantida sempre".

No início desta semana, uma carga com ajuda entrou em Guta Oriental pela primeira vez desde o início da ofensiva, mas teve que sair sem entregar toda a carga por causa dos bombardeios na região.

´Pulmão verde´ perto de Damasco

“Guta” é um nome informal usado para se referir aos subúrbios de Damasco, que ficam no entorno do rio Barada.

Antes da guerra, Guta era uma região agrícola produtora de vegetais e frutas, incluindo damasco. Já foi o maior fornecedor de arroz, açúcar, frutas e vegetais da capital.

Era também considerado um "pulmão verde", onde os habitantes da capital passavam o final de semana.

Grupos que atuam em Guta Oriental

Os residentes de Guta Oriental estiveram entre os primeiros a se rebelar contra o regime de Assad, em 2011. A região foi tomada por rebeldes um ano depois, quando a agitação se tornou um conflito armado, com a repressão às manifestações pró-democracia, e uma sangrenta guerra civil.

Em julho de 2012, opositores que partiram para a luta armada e formaram o Exército Sírio Livre (ESL) lançaram, a partir de Guta, uma batalha contra Damasco.

A partir dessa região, os rebeldes lançam projéteis contra bairros de Damasco.

Atualmente, três grupos principais lutam em Guta Oriental:

- Jaysh al-Islam, ou Exército do Islã. É a maior facção rebelde na região, com entre 10 mil e 15 mil combatentes, que lutam para substituir o governo Assad por um novo regime baseado na lei islâmica (sharia).

- Faylaq al-Rahman, ou Legião al-Rahman. É ligado ao ESL e rival do Jaysh al-Islam, e diz que tem o objetivo de derrubar o regime sírio, mas não pretende transformar o país em um Estado do Islã.

- Hay´at Tahrir al-Sham, ou Organização para a Libertação do Levante. A coalizão quer implementar uma doutrina religiosa ultraconservadora e é formada por membros da antiga Frente al-Nusra. Nega que seja a filial local da Al Qaeda.

Desnutrição e fome

Os constantes bombardeios aéreos e de fogo de artilharia, além de deixar muitas vítimas civis, destruíram edifícios residenciais, mercados, escolas e hospitais.

O cerco à região provocou um aumento nos preços e uma escassez de commodities. Consequentemente, gerou falta de alimentos, fome, desnutrição e uma séria crise humanitária. Os comboios humanitários da ONU raramente conseguem entrar na região.

Em 2017, a ONU condenou a "privação deliberada de alimentos para os civis" como uma tática de guerra, após a publicação de fotografias "chocantes" de crianças esqueléticas no leste de Guta.

E o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) denunciou a pior crise de desnutrição desde o início da guerra em 2011, com 11,9% das crianças menores de cinco anos sofrendo de desnutrição grave, contra 2,1% em janeiro.

Fonte: G1

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